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Heroínas da Pandemia - Conheça a história das mulheres que resistem

Relatos para o Dia da Mulher inspiram e dão esperança
7 de março de 2021

O ano de 2021 trouxe um novo sentido para o significado do que é ser mulher. Ser mulher e sobreviver tal como, após a chegada da pandemia causada pela COVID-19 e, consequentemente, o isolamento social, tornou-se quase um complemento do substantivo, que não por acaso também é feminino, da resiliência. Nesse contexto, o Dia Internacional da Mulher deste ano também ganhou uma nova perspectiva: a de reconhecer e homenagear essas mulheres, em tempos tão difíceis em que vivemos, e ainda mais complexos para elas.

O “novo normal” colocou as mulheres em um cenário em que tiveram que permanecer dentro de casa por muito mais horas, acumulando atividades profissionais, trabalho doméstico e cuidados de seus dependentes (tudo ao mesmo tempo). Em meio a isso tudo, soma-se nessa conta o estresse emocional em meio a um presente sem expectativas e um futuro ainda incerto, pós-pandemia.

Você não acha que essas mulheres são verdadeiras heroínas? A APMP, por meio da Diretoria de Mulheres Associadas, acredita que sim, existem heroínas da pandemia! Essas mulheres precisaram superar as adversidades, se reinventaram e estão, diariamente, vencendo e enfrentando os problemas do cotidiano. Mas quem são elas? Elas estão em todos os lugares ao nosso redor, desde a professora, a enfermeira, a advogada, a empregada doméstica, a artesã, a empreendedora, a secretária, a motorista, entre tantas outras profissões.

E a economia continuou a girar com a força de trabalho dessas mulheres. O trabalho remoto surgiu como alternativa para algumas, mas outras tiveram que sair às ruas para garantir o salário no final do mês, expondo-se ao vírus e tendo que tomar muito mais cuidado na hora de voltar para casa e encontrar seus familiares.

Alguns exemplos de superação que podemos citar são de professoras, que enfrentaram o desafio de continuar com o ensino on-line. E também as novas empreendedoras, que se viram desempregadas e buscaram seu sustento criando novos negócios. E foram muitas novas empreendedoras! Segundo a Rede de Mulheres Empreendedoras, o crescimento do empreendedorismo feminino foi de 40% durante a pandemia e a projeção espera ainda mais.

E quanto aos efeitos colaterais da pandemia? De acordo com dados do Monitor da Violência¹, o número de denúncias de violência doméstica e violência sexual aumentaram enquanto os registros realizados pelas vítimas diminuiu. Esse fato escancara o quanto a segurança da mulher diminuiu ao estar mais tempo em casa. 

A Sempreviva Organização Feminista (SOF) realizou um estudo que mostrou que 50% das mulheres brasileiras passaram a cuidar de alguém durante a pandemia: crianças, idosos, amigos e/ou vizinhos. A pesquisa também apontou que a crise causada pela pandemia afetou principalmente as mulheres negras, amarelas e indígenas, em todos os aspectos. Isso nos mostra como a nossa sociedade é desigual e, quando se trata da população negra, parda ou indígena, existe uma enorme fragilidade das garantias mínimas.

A discrepância é exacerbada quando vemos que os índices de internação e óbito pela COVID-19 são maiores entre a população negra, segundo publicação da Revista Galileu. A atuação do Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030, da ONU Mulheres, reúne combatentes que buscam evidenciar e mudar essa triste realidade.

E como ficaram as mães? Segundo uma análise feita nos Estados Unidos pela consultoria McKinsey e a Fundação Lean In, 76% de mulheres com crianças menores de 10 anos reconhecem que o cuidado com os filhos foi uma das três maiores dificuldades que enfrentaram durante a pandemia, em comparação aos 54% dos pais em situação semelhante. Ainda de acordo com o relatório, as mulheres têm uma probabilidade 50% maior que os homens de dedicarem pelo menos três horas diárias às tarefas do lar e aos cuidados dos filhos, o que equivale a 20 horas por semana – ou exatamente meia jornada de trabalho. A carga de tarefas que antes era conhecida como “jornada dupla” agora pode ser vista como “jornada contínua”.

E, com tantas dificuldades enfrentadas, precisamos falar da saúde mental. As mais afetadas emocionalmente, durante a pandemia, foram as mulheres, respondendo por 40,5% de sintomas de depressão, 34,9% de ansiedade e 37,3% de estresse. Os dados são resultado de uma pesquisa realizada em 2020 pelo Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). 

Portanto, a Diretoria de Mulheres Associadas, para homenagear a história de tantas heroínas anônimas, convidou 08 mulheres que têm relações próximas com a APMP para contar um pouco de suas trajetórias e superações durante a pandemia. Confira!

 

Bruna Massa 

Enfermeira

Como enfermeira, atuo em um setor onde 85% da força de trabalho no Brasil é composta por mulheres. Quando penso nisso, imediatamente volto aos milhares de colegas na linha de frente de combate à Covid-19. São mães, esposas, irmãs, filhas e amigas de tantas outras que, mesmo trabalhando sob uma carga física e emocional absurda, lidando com o medo e a frustração todos os dias, ainda sim são protagonistas de uma coragem inabalável. Já do "outro lado do leito", observo as pacientes, mulheres que carregam fragilidade e ao mesmo tempo determinação, aflição e doçura. Figuras muito fortes que, embora muitas vezes diante da incerteza da cura, carregam consigo uma fé e sonhos de que tudo vai melhorar.  É impossível não olhar para cada uma delas, não estar ao lado, não valorizar cada uma, cada história. Esse foi e é meu grande desafio desde o início da pandemia, cuidá-las e apoiá-las como merecem, oferecendo ombro, ouvido, incentivo e muita luta.

 

 

Geraldine Camozzato Hoffmann Glitz

Profissional de Relações Públicas

O meu maior desafio foi encontrar o equilíbrio emocional. Re-significar. Re-inventar. Re-conhecer o que não é essencial e valorizar o que realmente importa.

 

 

 

 

Gladys Ferreira Schneicker

Professora da educação infantil

Superar medos e limitações. Como educadora infantil, passar entusiasmo e ensinamentos, sem toque, colo ou abraço. Descobri que o afeto deles me fortalecia, mas o brilho e inocência do olhar, mesmo que pelas telas, fortalece muito mais.

 

 

 

 

Karine Blume

Empreendedora e empresária

Força, afeto e determinação para superar um momento tão complexo e desafiador.

 

 

 

 

 

Maria Rosângela Milléo Ansay 

Assistente Social da Fundação de Ação Social

Encontrando-nos, todos, no contexto da pandemia, na verdadeira condição de igualdade material, nosso desafio foi, e continua sendo, procurar, encontrar e dar adequada e eficiente resposta à demanda daqueles que originariamente se encontram em situação de vulnerabilidade social.

 

 

 

Priscila da Mata Cavalcante 

Promotora de Justiça

 A pandemia nos fez regressar ao lar. Não a uma residência física e sim ao íntimo do nosso ser. Nos permitiu encontrar o lugar secreto, no fundo da nossa alma. Percebemos o quanto a vida é singela, frágil, efêmera. E que a única forma de combatermos nossos medos é fechar o coração para ele e decidir dar lugar somente a fé, amar nossos familiares, amigos e os cidadãos a quem servimos.

 

 

 

Ruth Valenzuela de Figueiredo Neves Sinhori 

Presidente da Associação Apoio e paciente de Covid

Quem passa 24hr aqui na UTI, agonizando ou vendo as pessoas ao lado agonizar, compreende que aqui não há ideologia, esquerda, direita, pobres, ricos, raças ou religiões. Há vidas por um fio, dependendo da ciência, dos abnegados profissionais da saúde e da providência divina.

Eu deixei a UTI e havia uma mulher de 62 anos na ambulância, aguardando leito. Ela ocuparia minha vaga, pois não tinha outro disponível. Ela não chegou aqui, morreu na triagem.

Por favor, eu peço, não neguem essa pandemia, se cuidem ao máximo, ouçam apenas o bom senso.

Homenageio todas as mulheres neste dia, rendendo especial tributo à memória de minha mãe, Nair, que viveu 96 anos e de quem recebi o legado da ajuda ao próximo. A única arma que ela colocou na minha mão para me levar ao combate foram os princípios cristãos.

 

 

Viviane Flumignan Zétola

Médica Neurologista

O desafio da mulher vem historicamente sendo chamado de jornada “dupla” de trabalho, visto o papel insubstituível da mulher na manutenção da harmonia do lar, seja no papel de filha ou de mãe. Esse sexismo nem sempre é discriminativo porque possui base fisiológica representada por fatores hormonais que favorecem as mudanças de humor e  o aumento nas intensidades das emoções  mas traz o talento do “cuidado”. A situação do COVID para mim, mulher médica, foi ainda maior, pois além do da necessidade de reorganizar a casa para todos que estavam buscando espaço físico e emocional com o isolamento, continuei com minha vida em ambiente inóspito (nessa situação do COVID), com aumento da demanda do trabalho que  gerou um temor de ser o “principal” agente transmissor dentro de casa. E como já citado, nossas características hormonais antecipam um estresse de uma expectativa de culpa diante disso tudo. Desafio sem manual de instruções e sem precedentes. Acho que só mesmo para MULHERES. Vamos comemorar juntas nosso papel de agregadora e cuidadora.

 

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¹ Realizado pelo G1, em conjunto com o Núcleo de Estudos de Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

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